Sobre Dúvidas e Confusão
Hoje, aquilo que chamamos de vida não parece incluir sentido. Vivemos em constante automatismo, reproduzindo comportamentos que parecem nos manter em volta do mesmo ponto existencial. Achamos que nos movimentamos, mas, de um determinado ponto de vista, nos mantemos na mesmice (como um cachorro correndo atrás do próprio rabo).
Mas que ponto é este que me faz girar, como se fosse um centro de gravidade que me aprisiona? Ao mesmo tempo, que de maneira ilusória, me dá a impressão que estou girando, me traz cansaço, desilusão, falta de sentido e confusão.
Este centro não sou eu, pois olho de fora. Não tem alma, porque é exigente, tirano.
São as minhas projeções, ilusões, fantasias, idealizações. Mas tenho medo de soltar-me e sair de órbita, me perder na imensidão do desconhecido.
Tudo que soube até agora de mim mesma, pertence a este centro, que começo a descobrir que é periferia.
Tanto tempo, tanta energia investidos para me manter em “órbita” em torno de algo que não sou eu mesma. Pedaços de vivências que ali foram sendo colocados, ao longo de não sei onde, nem quando, e mal sei por quê. Percebo apenas o eco de coisas vividas, imagens construídas em um tempo que não é este. Por outro lado, aqui estou eu não só presa ao passado, mas também ansiosa por um equilíbrio e um sonho de liberdade, que hoje mal sei o que realmente significa.
Mas o quê me impede de me desgarrar, além de mim mesma? Outros tantos parecem estar nas mesmas condições. E na nossa inconsciência ou acomodação temos alimentado uns nos outros, na nossa prisão.
O poder que está no centro dessa prisão/ilusão, prendendo-me, também pode ser visto como uma construção feita através dos tempos. Ela possui imagem, valores, crenças, do que é certo e o que não é; do que é permitido e do que não é permitido; do que é seguro e do que não é seguro; e do que é verdade e do que não é verdade.
Nesse processo, ao mesmo tempo que eu e os outros alimentamos nossa inconsciência, nossos medos, nossas ilusões; algumas vezes parece haver colisões, quando o outro “insiste” em não caber no meu jogo. Fico com raiva, frustrada, sinto-me ameaçada inclusive na segurança que nunca tive. Este outro me incomoda, me “atrapalha”. Quero que ele se afaste, pois ele não combina (ou se adéqua) ao meu “ideal”, ele me faz sofrer.
E eu sofro, lamento e culpo o outro por tudo que estou sentindo de desconforto. Mas, são justamente estes choques que poderiam criar aquela janela onde eu poderia começar a despertar para o fato de que esta não é minha verdadeira realidade. Que eu não sou isto. O centro não é ali. Ali é periferia. O centro é aqui.
E como fazer para voltar para mim mesma? Sair da periferia e voltar para o centro?
Eu preciso abrir mão da pseudo-segurança, que é o mesmo que dizer soltar todas aquelas construções que me fizeram acreditar (mas não me faziam Ser), e ao mesmo tempo me fizeram crer na minha existência como algo a ser aperfeiçoado e protegido a todo custo.
É como um mergulho de costas. No máximo, penso que sei, o quê estou deixando, mas pouco sei sobre o que sou agora. Há apenas silêncio e solidão, onde antes havia medo e confusão.
Meu olhar ainda está no que acredito estar deixando, quando começo a sentir as primeiras notas do silêncio.
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