Às vezes, para acessarmos a resposta que buscamos precisamos fazer a pergunta ‘certa’.
E às vezes, a pergunta é tudo que precisamos no momento.
Por exemplo, no nosso nível evolutivo, fazer a pergunta: “Quem sou eu?” não é algo a ser respondido como se estivéssemos em um teste de certo ou errado, onde nossos conhecimentos estão sendo avaliados.
É o tipo de pergunta que quando feita – e aí está a importância do “como” essa pergunta é feita – com intenção, inteireza, atenção e curiosidade, abre espaço para acessar algo novo sobre e em nós mesmos. Novo, no sentido de que ainda não tínhamos consciência ou não tínhamos experimentado conscientemente aquilo que surge.
Estamos acostumados com perguntas do tipo: “Qual a cor do cavalo branco de Napoleão?”, cuja resposta parece estar contida na pergunta, é algo já conhecido. Conhecido porque faço a pergunta que o outro quer ouvir, ou talvez a pergunta que continua me levando para a reafirmação das minhas crenças e modo de estar no mundo. Nesse caso, algo em mim, vai procurar satisfazer a expectativa que acho que o outro tem sobre mim; e garantir e selecionar as informações que corroborem com o que já acredito.
Mas, digamos que eu já reconheça minha ignorância e a necessidade de exercitar buscar o quê ainda não sei…
Então, ao ouvir a pergunta: “Qual a cor do cavalo branco de Napoleão?”, talvez eu saiba que ela contém uma “pegadinha”. Ela não é o que parece e, o mais óbvio, não é a resposta. Ela requer que se vá além do óbvio, do conhecido.
Quando descobrimos que é uma pegadinha, abrimos espaço para outras possibilidades: Qual é a resposta, se não é o óbvio, o conhecido? E isso nos faz pensar em diferentes possibilidades, buscando a solução para o “enigma”. Uma das versões da brincadeira diz que o nome do cavalo é que era branco, e que o cavalo seria colorido.
Mas, então qual era a cor do cavalo branco de Napoleão?
Muitas, porque ele teve vários. O mais famoso recebeu o nome de Marengo, cujo esqueleto é preservado até os dias de hoje, e era de pelo cinza claro. O nome Marengo, em homenagem à vitória de Bonaparte na Batalha de Marengo, na Itália, em 1800.
A origem da brincadeira, segundo a Revista Super Interessante, “tem relação com uma das imagens mais icônicas de Napoleão – a obra Napoleão cruzando os Alpes, de Jacques Louis David”, encomendada pelo Rei Carlos IV, “que queria pendurar uma imagem de Napoleão em uma galeria de pinturas de outros grandes líderes militares, que ficava no Palácio Real de Madri – para cimentar, com a representação, a aliança entre os dois países.”
Porém, Napoleão gostou tanto do resultado que pediu para David fazer cópias, todas diferentes, para espalhar por outros lugares.
E aqui, mais uma informação: historiadores afirmam que, na verdade, Napoleão saiu desse conflito galopando no lombo de uma humilde mula.
Assim, podemos nos dar conta, que ao nos abrirmos para o que tem por trás de uma simples brincadeira, pode conter informações e conhecimentos de história, arte, política, marketing, psicologia, etc. (E surgir: e eu com isso?!). Mas que eu só vou acessá-los, se me dispuser a conhecer, saber, mantendo uma atitude de curiosidade sincera.
O que requer, da parte de quem se pergunta, uma certa humildade em reconhecer que há algo que ela não sabe; e que, independentemente da influência da nossa cultura e educação – que insistem em nos ensinar que o aceitável é sempre ter a resposta certa, na ponta da língua: “É raro dar valor ao tipo de conhecimento que a princípio é vago e toma tempo para acessar.” – preciso sair da armadilha da vaidade intelectual, que me faz sentir forte e pertencendo quando sei a pergunta ou a resposta certa.
Algo em mim parece sinalizar que é lá que posso ser livre.
Também quero estar aberta, ter tempo para deixar vir a pergunta que é prioridade para mim.
Quando parece que o orgulho em saber não mais satisfaz como antes, isso seria sinal ou pista, que talvez a saída do labirinto está em assumir que não sei (E está tudo bem!)?
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