Capítulo 2 – O Homem Terreno e o Homem Divino

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Capítulo 2 – O Homem Terreno e o Homem Divino

Estamos de volta com mais uma parte do livro “Questões sobre o Gênesis”, obra do teólogo Fílon, de Alexandria:
A sua interpretação do livro do Gênesis parte da premissa de que o homem se compõe de três partes: corpo, intelecto e espírito, sendo que este último é originário de Deus.
A inteligência pode ser corrompida, tornando-se terrena. Assim, a vida humana desenvolve-se das seguintes formas:
(i) a do corpo físico (forma mais básica e inferior);
(ii) a da razão (alma ligada ao intelecto) e,
(iii) a forma de vida superior (dimensão em que alma e intelecto ligam-se ao espírito divino, eterno.
Para complemento, consultar: “Fílon de Alexandria (10 a.C – 50 d.C)” em Só Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2021. Consultado em 15/06/2021 às 14:35. Disponível na Internet em http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=39.
A criação do homem por Deus aparece na Bíblia em Gn, 2,7. Em sua obra, Fílon responde à seguinte questão: “Quem é o homem “formado”? E como difere do que é feito ‘à imagem e semelhança’ de Deus”?

  • O homem formado é o homem sensível-perceptível, corruptível, corpóreo, que se forma do pó e da terra, sendo ainda o retrato do tipo inteligível. Por sua vez, o homem feito de acordo com a forma é inteligível e incorpóreo, sendo ainda o retrato do arquétipo na medida em que é visível. Este homem feito é uma cópia do Logos de Deus, o primeiro princípio, a ideia arquetípica, o pré-mensurador de todas as coisas.
    Continua Fílon:
    “Por essa razão, o homem que foi formado como por um oleiro foi formado a partir do pós e da terra, com respeito ao corpo. E adquiriu espírito quando Deus lhe soprou vida na face. E a mistura de sua natureza era uma mistura do corruptível com o incorruptível. Pois o que é de acordo com a forma é incorruptível, vindo de uma natureza invisível, a partir do que é simples e puro” (p. 60).
    Ainda sobre o “sopro de vida”, Fílon explica qual a razão deste sopro ter sido feito sobre o rosto do homem:
    “Antes de tudo, porque o rosto é a principal parte do corpo. Pois o restante [do corpo] foi feito como suporte, enquanto o rosto, como um busto, está colocado firmemente sobre ele. E a percepção sensível é a principal parte da espécie animal, e está no rosto. Em segundo lugar, o homem é aceito como parte não apenas da ordem animal, mas também da ordem dos animais racionais, e a cabeça é o templo do intelecto, como disse alguém” (p. 60).
    Em várias passagens que se referir ao homem, Fílon de Alexandria destaca sempre a cabeça como “templo do intelecto” e em várias alegorias referir-se-á ao intelecto como o que deve merecer sempre mais atenção no homem e o que deve ser por ele trabalhado e desenvolvido durante a sua existência.
    Para ele, o Paraíso descrito no Gênesis simboliza a sabedoria – “a ciência do divino e do humano e de suas causas”. E é por isto que apenas o homem formado é colocado por Deus no Paraíso:
    “Eu diria, porém, que o Paraíso deveria pensar-se como símbolo da sabedoria. Pois o homem formado do barro da terra é uma mistura e constitui-se de corpo e alma, e necessita de educação, instrução, e é desejoso, de acordo com as leis da filosofia, de ser feliz”.
    Tais necessidades, no entanto, não afetam o homem feito à imagem e semelhança de Deus, uma vez que este homem “(…) se informa, se ensina e se instrui a si mesmo por natureza” (p. 62).
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Colaboradora e pesquisadora do Centro de Estudos e Pesquisas Biofísicas (CEPP), com formação acadêmica em Comunicação Social e em Filosofia, ambas pela Universidade Federal da Paraíba.

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