O sofrimento, esse Mestre incansável e presente!
Sofrimento e dor!
O sofrimento é algo a mais – não maior necessariamente, porque “maior” é medida variável de pessoa a pessoa – mas é algo que está para além da dor e persiste mesmo quando eu compreendo o fenômeno que a provocou?
“Sofrimento não existe por si só”, afirmou o professor. Ele vai cessar porque haverá “época” em que até o sofrimento deixará de existir, quando então se instalará a beatitude, a bem aventurança, o samadi, a ananda!
Por enquanto, aqui nesta Escola que é a Terra – explica ainda o professor – o sofrimento é instrumento de aprendizado.
Assim, – pensei eu ao ouvir a explicação – o sofrimento permanecerá em mim até (e só até!) eu aprender o que quer que tenha a ser aprendido.
O sofrimento persiste à dor, mesmo quando esta não mais está presente!
É algo subjacente e até inconsciente, às vezes. Mas está lá, para além dos fenômenos vividos, para além das vivências experienciadas. Está subjacente às alegrias, não para destruí-las e obscurecê-las, mas porque é intrínseco ao aprendizado que justifica as nossas ressomas.
Está ali como instrumento de aprendizado, para ensinar, qual um Mestre que nos apoia o braço com o lápis, mas não escreve por nós. Apenas nos acompanha e observa o que escrevemos. Quando a lição é aprendida, ele, o sofrimento, se afasta, desaparece. Quando não nos apercebemos do que é preciso aprender, ele ali permanece, às vezes, nos chamando a atenção com mais veemência – recrudescendo no nosso íntimo que o experimenta!
Mas o seu propósito é o mesmo da situação anterior: despertar em nós o que temos de melhor!
Afirmou Sidarta Gautama que é para nos livrarmos do sofrimento que renascemos.
Sim. E se a cada existência, eu aprendo o que é necessário, esse “Mestre” se tornará cada vez mais ausente no meu viver.
Assim, vamos de sofrimento em sofrimento paradoxalmente nos “livrando” dele, desde que…
… estejamos atentos, autoconscientes.
Como integrante desse ser humano em construção, dessa consciência em aprendizagem que sou eu, o sofrimento me acompanha. Não me segue nem me antecede. Anda comigo, ao meu lado, passo a passo, buscando chamar a minha atenção para a lição a ser aprendida.
Seu método de ensino é doloroso e firme, tanto quanto os seus efeitos são libertários e permanentes!
Em sofrimento, devo respirar fundo algumas vezes, alinhar meu pensamento com o que há de mais sublime ao meu redor, buscar uma conexão com o ideal divino que cultivo e repetir como ensinou Yogananda: “Isto é bom para mim”.
Em sofrimento, devo absorver por pensamentos, energias e pele tudo o que a emoção grita e expele, mas mantê-la circunscrita ao que essencialmente ela é: uma emoção.
Em sofrimento, observo os resultados que a dor provoca, observo a reação do corpo, identifico a emoção e o que a trouxe à tona. Em seguida, em sofrimento ainda, percebo que esse “observador” de tudo isso que parece “devastador”, resiste e vislumbra que há esperança, afinal!
Em sofrimento, tenho a grande possibilidade de perceber que talvez a maior lição consista em se dar conta de que o sofrimento não é privilégio ou exclusividade minha!
E isso, transformando-me, me torna mais tolerante num primeiro instante, mais paciente, e vai progressivamente me conduzindo para a compreensão de que não importa o “tipo” do sofrimento: ele atinge a todos e todos enfrentam o mesmo esforço que eu para aprender a lição específica de cada um!
Enfim, aprendo a ser mais humano e compassivo diante do sofrimento do outro porque sei o quanto de esforço me é exigido para enfrentar e superar o meu próprio sofrimento!
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