REAÇÕES PERANTE À MORTE

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REAÇÕES PERANTE À MORTE

“Se você ama, você saberá que tudo começa e tudo termina e não há nenhum dano nisso. A pessoa não é magoada, ela simplesmente sabe que a estação acabou. A pessoa não se desespera, simplesmente compreende e agrade ao outro: ‘você me deu tantos belos presentes. Você me deu novas visões da vida, você abriu algumas janelas que eu nunca teria aberto por mim mesmo. Agora chegou a hora de nos separarmos e aqui nossos caminhos se dividem’. Não com raiva (…) mas com tremenda gratidão, com grande amor, com um coração agradecido. Se você sabe como amar, você saberá como separar”.

Aprendemos desde os primeiros anos de estudo, na escola, que uma das principais características de todo ser vivo é o seu ciclo, que começa com o nascimento e prossegue com o crescimento, a reprodução, o envelhecimento e… a morte. Por sermos um ser vivo, também nós nascemos, crescemos, reproduzimos (ou temos a capacidade para, na maior parte dos casos), envelhecemos e… morremos.
Então por que a morte é um tema sobre o qual falamos com tanta dificuldade e receio?
E quando se trata da morte de um ente querido, ainda que seja o animalzinho de estimação, nós então “perdemos o rumo”, nos desesperamos.
Hoje vamos refletir justamente sobre reações diante da dessoma – termo que usamos sempre para nos referirmos à morte biológica.
Para começar, pense um pouco sobre como você reagiu diante da dessoma de alguém querido (pai, mãe, filho, amigo e até um cachorrinho ou outro animal de estimação ao qual você tinha apego), se você já passou por essa experiência ou, para aqueles que ainda não tiveram essa experiência, pense qual seria a sua reação diante de uma situação dessas.
Quando alguém morre, comumente ouvimos (e às vezes nós mesmos repetimos) frases como: “fulano descansou em paz”, “fulano dorme agora o sono eterno”, ou “fulano deixou a vida”. São frases que têm o propósito de “consolar” e no entanto, mesmo quando são frases que fazem referência à “passagem para a vida eterna” nos provocam tristeza, desespero e medo.
Ainda quando professamos fé nessa ‘vida eterna’, na hora em que somos atingidos pela separação inevitável, bradamos aos quatro ventos a nossa dor de forma exageradamente desesperada e desesperançada na tal da vida eterna.
É comum, nessas ocasiões, nos questionarmos e da forma mais inadequada como quando nos perguntamos: “Por que não fui que morri no lugar do meu filho (do meu pai, da minha mãe, da minha irmã?)” ou então: “Por que Deus fez isso comigo?”
Tem até uma música do Padre Zezinho, intitulada “Brigar com Deus”, que representa bem esse drama. Um dos trechos da música diz: “Há feridas que não se curam com pomadas, mas com o tempo…”. E essa dor diminui a sua intensidade com o tempo quanto mais a gente tem discernimento pra entender que não há “castigo” e que apenas enfrentamos um fenômeno natural.
Por que reagimos assim se desde pequenos aprendemos que a morte é inevitável e, principalmente, um fenômeno natural como nascer e crescer?
Natural significa próprio e inerente àquele que possui tal característica ou atributo. Portanto, já podemos concluir que morrer não é algo extraordinário que pode ou não me atingir.
Morrer é natural.
Outra convicção que deve nos guiar é a de que quando alguém dessoma esse alguém não “desaparece”, não “acaba”, não é simplesmente “comido” pela terra e pronto.
Assim, guardemos também essa afirmativa: Nós somos eternos. A vida da consciência aponta para a vida perene. Ser eterno significa que não fomos criados para chegar a um fim ou à extinção.
Isto implica que a vida continua e o mais importante, somos mais do que o corpo físico. Este sim, se desintegra assim como tudo o que é matéria.
O corpo físico é o que chamamos de soma. O soma é um dos veículos de manifestação da consciência intrafísica. É o corpo humano, biológico ou celular. Representa o nível elevado da evolução animal.
Muito bem. Esse soma, por ser matéria, sofre desgaste, se deteriora.
A dessoma (des + soma) é a desativação somática, próxima e inevitável para todas as consciências intrafísicas (conscin). É o mesmo que 1ª morte ou morte biológica. Esse momento da dessoma marca também o ponto de encontro dos seres intrafísicos projetados e dos seres extrafísicos que passam pela 1ª dessoma.
De tudo isso, fiquemos com a seguinte afirmação: dessoma é inevitabilidade.
Segundo Waldo Vieira, estudioso e criador da Conscienciologia e da Projeciologia, a projeção consciente humana (a ‘saída’ do corpo de forma consciente e planejada) mata a morte física ou a dessoma porque na projeção encontramos a ‘prova’ da continuidade da vida além-túmulo. O fenômeno da projeção consciente prova tão-só para você, na sua intimidade, que a morte do soma não afeta a continuação do fio vital da consciência.
Portanto, todos nós vamos dessomar um dia, uns mais cedo outros tão logo nascem, outros após os 100 anos… mas todos dessomam. Entretanto, nenhum finda, se acaba, mas continuam a sua jornada em outra dimensão. Assim, devemos entender a dessoma como fenômeno natural e necessário, tanto para os que ‘partem’ como para os que ‘ficam’, que possibilita o início de uma nova etapa da vida, tanto extrafísica (para os dessomados) quanto intrafísica (para os que permanecem na Terra).
E vocês podem perguntar: o que fazemos com toda a dor que sentimos quando alguém muito querido dessoma? A resposta é simples: Sinta toda a intensidade dessa dor.
Lembremos que nós somos um complexo que inclui também um corpo emocional, o corpo das emoções. E assim como não devemos ignorar as necessidades do nosso soma (corpo físico) também não devemos desconhecer ou reprimir as emoções e os sentimentos, muito menos a dor.
Assim, chorar quando alguém dessoma, quando se está com saudades, é até saudável porque nós, como consciência intrafísica (conscin) devemos sempre ativar as nossas emoções sem recalcá-las. Este hábito elimina a possibilidade das depressões, recalques, inibições, úlceras gástricas e outros distúrbios que surgem nas relações entre a mente e o soma.
O fato de compreendermos que a dessoma é natural e inevitável não se constitui em “armadura” contra a dor e a tristeza que nos advém quando experienciamos a dessoma de um ente querido. Devemos sim chorar, até com intensidade em alguns momentos e até durante alguns dias.
O importante é não ficarmos só nisso, entregue a essa tristeza diante do inevitável, nos consumindo em autocomiseração e nem marcar esse momento com espetáculos de desespero. Prolongar esse estado de choro e ranger de dentes, recusar-se a erguer a cabeça e seguir em frente, mesmo sentindo saudades, é infantilidade.
Não menospreze a sua dor, mas não a supervalorize em detrimento da sua necessidade de seguir em frente, afinal cada um de nós uma programação existencial a seguir e nela estão incluídos esses momentos de dor também e o como devemos enfrentá-los. Se insistimos em permanecer nesse estado, perdemos a alegria e o sentido dessa programação.
Uma vez, um amigo me disse, justamente quando eu passava por uma experiência de profunda tristeza, que “as pernas estão feridas, doloridas, mas continuam inteiras. Portanto, ande”.
Estamos aqui realmente de passagem. Esta não é a nossa casa definitiva. Estamos sempre em peregrinação em busca da nossa casa; mas essa busca não deve ser nem triste e nem pesada; ela deve ser cheia de risos, canções e danças. Com tristeza e seriedade é provável que você encontre algum cemitério, não a sua casa.
O que aprendemos com a dessoma de alguém que nos é próximo não é que o ‘perdemos’, mas que esta vida é realmente efêmera e passageira. O momento da dessoma é apenas a hora da separação, também momentânea, entre conscins.
Essa experiência, a partir do que eu mesma vivi, só é mais dolorida (e muito!!) quando nos damos conta de que poderíamos ter feito mais junto com aquela pessoa e nos negamos a isso, ou por acomodação ou por negligência ou por deixarmos sempre para amanhã… O remorso e o arrependimento são ingredientes que ferem até mais do que a dessoma em si…
Por isso, essa experiência revela aos que permanecem ainda como conscin a importância do vivermos hoje como se não houvesse amanhã, parafraseando o poeta.
Não significa, porém, viver pelo e para o soma. Mas aproveitar cada dia desta existência para exercitar a prática de virtudes que só se manifestam na convivência com o outro: tolerância, justiça, fraternidade.
Emmanuel, por Chico Xavier, aconselhou: “…ore para que nós vivamos como quem sabe que vai morrer um dia, e que morramos como quem soube viver direito.”
E mais: “A existência na Terra é comparável a uma viagem de aperfeiçoamento, na qual necessitas seguir adiante, ao lado de nossos companheiros da jornada evolutiva (…) sempre que tropeços e provações te apareçam, não te acomodes à beira da estrada, em algum recanto da inércia”.
Já temos condição mental elevada, um grau de compreensão alto e, portanto, a cada dia que passa temos maiores entrelaçamentos de vivências com experiências mais complexas, mais dinâmicas, em que a inteligência e a sabedoria são mais aplicadas.
Os problemas que surgem no nosso dia-a-dia e que nos impedem de sermos mais espiritualizados, ou pelo menos nos causam desalento, requerem de nós que superemos tais dificuldades e permaneçamos firmes no propósito de evoluir, servem para ganharmos força.
Todos nós temos uma PROGRAMAÇÃO EXISTENCIAL, razão pela qual não estamos aqui por acaso e nem sem qualquer finalidade. Por natureza, somos consciências que evoluem sempre juntas e assim a nossa programação existencial (proéxis) requer que rapidamente aprendamos a entender, amar e perdoar a nós mesmos e aos outros.
Não convivemos com as pessoas por acaso, mas porque todos com os quais cruzamos ao longo da nossa experiência nas várias existências fazem parte do nosso processo de evolução. “As consciências evoluem sempre juntas. Ninguém, racionalmente, se separa. Ninguém perde ninguém. Tratemos, pois, o quanto antes, de entender, amar e perdoar a todos. Não há outra alternativa entre nós.
Portanto, a solidão, o distanciamento, a separação, o isolamento, o abandono e o desaparecimento são conceitos que criamos para explicar os nossos desvios. Entretanto, voltaremos sempre a cruzar o caminho daqueles de quem nos separamos porque não convivemos com eles ao acaso, mas dentro do nosso processo de evolução. Há um propósito maior que nos liga àqueles com quem convivemos.
A sua consciência tem uma vida multidimensional e, portanto, não se restringe ao corpo físico.
Assim como a dessoma é inevitável, também o é a multidimensionalidade da consciência.
Saiamos hoje daqui conscientes de que cada um dos nossos que dessomou ou que vai dessomar, (e até nós mesmos!), continua vivendo depois da morte cerebral e da doação dos órgãos do seu soma. A prova disso pode ser obtida facilmente com a projeção consciente.
Compreender a morte como algo natural não implica em apatia perante as obrigações da vida humana e não impede a execução da proéxis da conscin no que se refere à vida material.
Experimentar a dor pela dessoma de alguém é grande oportunidade de crescimento, desde que tenhamos a lucidez de perceber a efemeridade desta existência e a continuidade da vida.
A dor, sentida em sua intensidade, conscientemente sem repressão ou sublimada, nos transforma em alguém mais sereno, mais tolerante, mais compreensivo.
Esta é uma experiência que nos revela a nossa capacidade de autossuperação na qual o fenômeno da dessoma deve ser autenticamente aceito como natural.
A aceitação autêntica não é a aceitação “por não poder modificar a situação”. Ela não tem qualquer sentido negativo ou de relutância, nenhuma resistência ou coação. Não aceite a situação devido a sua impotência, mas devido a sua força.
Por fim, aos que quiserem ‘dicas’ de como reagir diante da dessoma, repito a recomendação que recebi de uma Mestra:
“ame, trabalhe, ore e espere, os que amam não se separam jamais!”.

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Colaboradora e pesquisadora do Centro de Estudos e Pesquisas Biofísicas (CEPP), com formação acadêmica em Comunicação Social e em Filosofia, ambas pela Universidade Federal da Paraíba.

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