MUDANÇA PESSOAL – Quando e por que?
“Tudo quanto vive, vive porque muda; muda porque passa; e, porque passa, morre. Tudo quanto vive perpetuamente se torna outra coisa, constantemente se nega, se furta à vida.
(Fernando Pessoa).
O processo de mudança é tão inerente ao ser vivo quanto o é o próprio ciclo vital, pois cada etapa desse ciclo representa uma mudança. Evidentemente que quando falamos assim, o estamos fazendo exclusivamente em termos biológicos e, portanto, restrito ao corpo físico/matéria.
No entanto, a mudança também ocorre em todas as nossas demais dimensões: mental, emocional e energética, uma vez que o homem é um conjunto complexo multidimensional.
Mudança implica em crescimento. As plantas são o ‘crescimento’ da semente; uma planta adulta é a transformação, por crescimento, da plantinha que germinou da semente. O animal adulto é o filhotinho que cresceu. O homem é o bebê crescido.
Em cada estágio de ‘crescimento’ e de desenvolvimento, temos que fazer escolhas, desapegarmos e mais importante ainda: abrirmo-nos ao novo.
O que estamos propondo nesta reflexão é que assimilemos, como sinônimo de mudança pessoal, o entendimento de estarmos preparados para o novo, para algo diferente do que estamos pensando, do que estamos sentindo, do que estamos fazendo… Significa: despir-se da roupa velha e da qual de há muito gostamos; não olhar para trás, por mais que nos orgulhemos do nosso passado, apenas olhar o agora.
Isso exige maturidade… mental, emocional e física. Não se espera mudança pessoal profunda em alguém que se encontra nessa existência ainda na adolescência. O que também pode ocorrer, mas normalmente a maturidade do corpo físico, a idade, também é requisito para que se pense em mudar.
Um processo de mudança pessoal fundamenta-se em pelo menos 3 pilares básicos:
I – auto-observação
II – autoconhecimento
III – autossuperação.
Se o que você vê agora é resultante do passado, o que você tem que alterar ou conservar?
A nossa existência está guiada pelos seguintes tipos básicos de problemas:
1) urgentes
2) necessários e,
3) essenciais.
Os urgentes passam… porque deixam de ser urgentes no instante seguinte ao que os resolvemos ou não; os necessários passam… porque ou os enfrentamos ou eles adquirem um novo formato e a necessidade passa a ser outra.
No entanto, o que é uma questão essencial não passa. Permanece porque é o que somos, essência. Não é o que os outros dizem o que sou e nem é o que eu acho que os outros esperam que eu seja. É algo muito mais profundo e mais íntimo.
Cabe, pois, distinguir:
– o que é urgente na minha existência hoje?
– quais das necessidades que tenho são efetivamente necessárias?
– na minha existência, o que considero como essencial? E efetivamente isso é essencial?
– eu consigo hoje identificar o que é essencial dentro da minha programação existencial?
– o que tem impedido que eu execute a minha programação existencial?
São perguntas que não podem ser açodadamente respondidas, no burburinho do dia a dia, entre uma conversa e outra nas redes sociais.
Assim, para que a mudança pessoal possa ocorrer, é preciso:
1º) que eu queira (desenvolvimento do aspecto Vontade)
2º) que eu identifique os aspectos que me fortaleçam nesse processo (traços fortes, potencialidades a serem desenvolvidas)
3º) que eu conheça os aspectos em que posso comprometer o processo de mudanças (traços falhos ou que me aprisionam),
4º) que eu NÃO DESISTA… (porque não é fácil MUDAR!) Mais fácil é exigir que os outros mudem!!!
Toda mudança pessoal é também INDIVIDUAL, exclusivamente. Os arquitetos e pedreiros podem construir e reformar a nossa casa; os mecânicos podem revisar nossos carros; outros podem administrar nossas finanças, ou tratar nossas doenças… mas somente nós mesmos podemos promover mudança pessoal, quer seja superficial quer seja profunda.
É já conhecida a frase: “Ninguém muda ninguém, mas se cada um mudar a si mesmo, mudamos o mundo”.
Afirma-se que: “As situações mal resolvidas no passado formam muitas vezes uma rede de fios que carregamos nas costas (…). Continuamos arrastando as lembranças e culpas pela vida afora – e empenhando tanta energia nisso que pouco sobra para estarmos disponíveis para o presente. Ficamos, literalmente, amarrados ao passado. É necessário puxar o fio de volta, resgatar a energia que ficou projetada sobre o outro, e integrá-la novamente em si mesmo. Voltar a estar inteiro”.
Por isso, é preciso estar fincado sobre pilares da auto-observação, do autoconhecimento e da autossuperação.
Mas muitas vezes, estamos presos não necessariamente a outra pessoa, mas a alguma situação do passado. Estamos presos a nós mesmos. É preciso olhar para essa situação de novo, tentar compreender os fatos que a determinaram e o seu desfecho, mesmo que não tenha sido como esperávamos.
Vimos assim porque a mudança reclama esse olhar para dentro e porque ela só pode acontecer quando brota do nosso interior.
É essa auto-observação que vai nos permitir identificar e distinguir o realmente urgente do verdadeiramente necessário e do essencialmente existencial. É assim que estabelecemos nossas prioridades, nos permitindo fazer uma mudança radical, ou seja, na raiz.
Questione-se:
– Você dá tempo para o essencial?
Experimente dedicar mais tempo ao que é essencial em você e poderá perceber que, ao cuidar do essencial, encontra-se tempo para resolver os problemas urgentes e os necessários.
Atitudes estagnadoras e/ou dificultadoras desse processo: síndrome de Gabriela (“eu nasci assim, vou sempre assim….”), temor, medo, autocorrupção com sublimações e ganhos secundários que a nossa mente forja.
O cultivo de emoções como hostilidade, ciúme, culpa e a sua alimentação diária também é antievolutiva. A nossa existência se constrói na dualidade: prazer/dor, tristeza/alegria, saudável/doente…, pois tudo está sempre em movimento. O que não podemos é nos prender a apenas um dos polos, negando ou reprimindo o outro.
Ao invés disso, tome consciência da emoção no momento em que ela está presente e, a partir desse primeiro passo, supere-se.
Estagnamos o nosso processo de mudança quando utilizamos o que é ‘urgente’ para fugir do que é necessário e quando preferimos este ao essencial. E por que? Porque o essencial requer profunda interiorização, exige que paremos a correria do dia a dia e a troquemos pelo silêncio, pela auto-observação.
Toda reflexão exige um mínimo de introspecção, de recolhimento, de meditação.
Percebemos, então, que ‘mudar’ não é tarefa fácil. Não basta apenas ‘vestir azul’… porque a mudança não pode ser ‘por fora’, mudança apenas de roupa, não importa a cor…
Encerremos com as seguintes questões apresentadas por um Mestre:
– o que deve desaparecer dentro de mim, abrindo espaço para a existência que quero viver?
– preciso liberar a desordem em minha casa a fim de trazer nova ordem e ânimo à minha existência?
– que hábitos, pensamentos, coisas, situações, padrões, devo liberar para trazer outros novos à minha existência, transformando-a?
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